
Meu coração parece um deserto sedento
Só tem a lembrança do que não possui
Meu peito aperta, saudade desperta
Penso demais, e acabo morrendo antes do tempo
Inverno brusco, teu corpo na cama eu busco
E acabo sendo abraçada por tua ausência.
Eu penso
E de tanto enlouqueço
Ver-te passar.
Eu sento
Na beira da calçada
Pra lembrar.
Eu tremo
Só de saber
que chove.
Eu sonho
E por vezes esqueço
Não vais voltar.
Eu oro
E meu amor ateu
Acredita em Deus
Para que possas regressar.
Eu espero
Como se não tivesse pressa
Mais o pensamento não cessa
Em pedir para o tempo passar.
( Cáh Morandi )
Sentados na mesa a almoçar,
Ele começa, com doçura e
Com verdade a falar :
“ Menina, às vezes eu penso
O que passa por tua cabeça ?
Você só pode ser louca!
Você só pode estar a delirar!
Como podes !
Me diga como podes
Por mim se apaixonar ?”
Serena e sorrindo
Coloquei minhas mãos pequenas
Em seus braços cruzados na mesa
E disse com leveza :
“ Como podes!?
Como podes me perguntar!?
Eu te amo porque te amo!
E na minha cabeça, realmente,
Não tem nada a passar,
Tu sabes que o que por ti carrego
Está no coração a palpitar.”
Ele beijou minha mão.
Depois fez-se um silêncio.
A tarde, ele me beijou.
No outro dia me amou.
Na semana seguinte me deixou.
E hoje eu fiz essa poesia.
De joelhos
Eu olhei para cima
E chovia
E a lágrima
Corria
E eu gritei
Para a imensidão.
Não tinha retorno
Eu sabia que era vão.
Mas eu gritei
Molhada
Tremendo
E de pés no chão.
Corri até a grama
E gritei com tanta gana
Arrebentei o silêncio
Corrompi o espaço
E gritei.
GRITEI!
GRITEI!
GRITEI!
Ensurdecedor e vasto.
Sincero e devasso:
Meu amor por você.
.
.
E tu fostes
Na imensidão do universo
E no abismo da vida,
O ponto que me segurei
Para não ficar a mercê das horas.
Tu fostes
Como o canto de um pássaro raro
Quando meus ouvidos já se tampavam.
Creias e saibas, tua voz, ainda que falando
É sempre canção para mim.
Tu fostes
O raio de sol a romper a noite fria e calada
Tu agrediste a madrugada e brilhou para mim.
E quando você sorriu, ah Deus meu
Tu eras o próprio sol que me visitava!
Tu fostes
Mais do que um presente divino
Tu e esses teus olhos medrosos de menino
Vieram pra encantar e dar vida
A tudo que em mim dormia.
( Cáh Morandi )