janeiro 21, 2025

contamos os pintas 

espalhada em meu colo,

os dias de sol deixaram 

sinais. vinte e seis, pois

fomos exatos 


acho que é disto que 

me lembrarei quando 

os cálculos de um amor

não darem mais tão certos:


a maneira que você resolveu

as dúvidas do meu corpo 



Cáh Morandi

janeiro 20, 2025

devia estar atenta de que

os nossos desejos podem 

acontecer, mas como poderia

lembrar? 


eu disse: “me esqueça, nunca 

mais me ligue”. assim aconteceu.

raiva de ti, raiva de mim por ter

que me convencer que o amor

acata ordens de alguém 

gritando em desespero


não me parece certo,

tu ou o amor podiam 

revoltar-se contra mim?

quebrem as minhas 

regras 



Cáh Morandi

janeiro 19, 2025

não saia em silêncio

você pode fechar a porta

quando, enfim, sair? 

bata, devagarinho, mas

o suficiente para que eu

escute da cozinha ou 

do quarto, faça barulho

por favor, deixe a chave 

cair, tropece no vaso de

espada de São Jorge, 

assobie para o cachorro

do vizinho que sempre está 

em volta, mas não deixe o

silêncio na tua partida, não 

desligue a música na tv, 

não desligue o chuveiro, não

tire a panela de pressão do

fogo, não saia pela porta 

dos fundos, não vá sem

dizer qualquer palavra desse

amor que foi repleto de 

poesia 



Cáh Morandi

janeiro 18, 2025

passei a tarde deste

sábado chuvoso 

a te procurar nas minhas

palavras, na tentativa 

de que o poema me

aquietasse, mas 


não sei me proteger 

da tua lembrança quando

os dias pedem afeto, mas


ao menos, de perder 

já não tenho medo


Cáh Morandi 

certas coisas não cabem no poema, nas músicas, 

 nas palavras, nos gestos, na contenção 

      criada socialmente para nos dizer: até aqui se pode sentir.

não dá. ando sentindo de uma maneira incabível

 em mim, em minhas relações com o mundo,

estou com o coração acelerado, estou com o corpo

      em milhões de desintegrações, estou flutuando

tão leve, que sou quase nada.

amo estar na minha presença,

dançar com os dedos nos traços

da minha idade, descansar

as mãos em meu cabelo e

acariciar meu cansaço,

cantar as músicas que invento

na voz disritimada das manhãs,

ver o contorno das minhas pernas

se cruzando com minha coragem

de permanecer dançando nas curvas

imprevistas que a vida dá


reunindo as minhas muitas

histórias, vou me compondo

de um futuro de tudo que 

intencionalmente não sei

sobre mim

Cáh Morandi 

dezembro 26, 2024

pode soar repetitivo 
dizer que, às vezes, 
encontramos nosso lugar
em uma pessoa 

mas soa novo
saber que, sempre,
ao encontrar o lugar,
nós somos a pessoa

Cáh Morandi
quando tuas mãos encontram
minha cintura e deslizam, 
é como gosto de te ouvir
dizer “bom dia” ou 
“venha cá”

é também uma forma 
de sorriso. é assim 
que leio nosso falar
em gestos

eu leio seus sinais 
de fogo, eu te digo
no olhar o quando

Cáh Morandi  
tirar as camadas do peito, 
das palavras, da pele,
do medo, da vida 

expor a parte 
sensivelmente forte 
vulneravelmente clara
verdadeiramente real

saber que não é 
possível perder o amor
depois de estarmos 
sem barreiras para
ele 

Cáh Morandi  

novembro 08, 2024

entre tantos lugares
para se estar no mapa,
em algum coração, de
repente: entre as coisas
que não se diz, e aquilo
que se sente

no fim é bom apenas

estar presente, e nem

saber para onde será

o próximo passo


ainda que não sei 

do destino, mas é bom

não estar no passado


Cáh Morandi